Fascínio, inquietação, backward, forward!

HoMyfate7

{isto não é um post} Não é a primeira vez que escrevo ou falo sobre estas “inquietações”. Tudo isto faz parte da minha realidade, das minhas preocupações, das minhas reflexões, às vezes dolorosas, mas que incuto em mim mesmo como uma experiência ao mesmo tempo catársica e redentora.

Sou um ser não linear, ou, no mínimo, cíclico, rítmico, onde em cada “segmento” construo realidades (talvez não independentes, mas sim propiciadas por determinadas conjunturas —algumas não discerníveis, mas suavemente implícitas… é a sensação…), realidades essas que utilizam, permanentemente, um vai-e-vem aos referentes, sejam eles imagéticos, verbais ou sonoros e constantes reutilizações, remix(s), transformações, transmutações, de informações, de discursos, de escritas, de actuações, de abordagem a problemas, de aproximações à vida… e é esse acumular e revisão da matéria que me dota de outros conhecimentos e gera outras capacidades.

Há pensadores que postularam e teorizaram que a vida se baseia, sobretudo, no caos e na imprevisibilidade… ou, se bem posso deduzir, não na sistematização, quiça redutora, dos processos lineares e organizacionais. Se assim é não sei, mas o que posso afirmar é que o fascínio da vida, para mim, se baseia em grande parte nessa dimensão misteriosa, imaterial e potencialmente renovadora para as sinapses da criação.

Também, em boa verdade, penso que a vida, como é convencionada e conhecida, não é linear… Temos potencialidades tão intrigantes como a de “conspirar” à distância no tempo, a de conceptualizar o próprio tempo, a de medir o passado para aferir o presente, a de conceptualizar o presente e o passado, a de esculpir uma vénus com a intenção de proporcionar o bem estar emocional e excitar a imaginação dos outros. A de realizar acções, “boas ou más”, que não visam a alteração imediata de monta das coisas, mas sim a longo prazo, mesmo sabendo (ou suspeitando) que essas alterações não farão parte do próprio futuro pessoal (num sentido biológico crono-relativo, pelo menos), mas sim do outro, do grupo, do herdeiro… e, muito relevante, das possíveis inferições que esses outros poderão vir a construir nas suas mentes, e com esses “resultados” projectarem, eles mesmos, outras narrativas e outros futuros.

Temos a capacidade única de imaginar o futuro (apesar de não conseguirmos — ainda?) aferir, com certeza, os resultados e as consequências de determinados ocorrências actuais no futuro. Sabemos, contudo, por termos aferido eventos do passado, que é possível que uma pequena circunstância, com determinadas características, se pode espalhar viralmente e exponencialmente entre a espécie, ficando muitas vezes latente acabando por gerar alterações na evolução.

Mas circunstancial é o que suspeitamos, numa visão simples. A não ser que o genes, os memes, ou seja-lá-o-que-for, não sejam assim tão “cegos”, mas sim elementos tão extraordinários e fora dos limites da nossa própria imaginação –ou, melhor, do âmbito da imaginação como a consensualizamos, já que a imaginação por si não deveria pressupor limites– que tenham capacidades extra-humanas, hiper-humanas, não percepcionadas, e com essas características tenham gerado, eles mesmos, não só a conjuntura necessária ao acidente, mas também o acidente, configurando assim consequências necessárias para moldar o futuro de acordo com as suas “vontades”… este visão, quiçá de bd, pode parecer despropositada ou antropologia de meia-tigela, mas não é impertinente.

 

Horácio {Tomé Marques}
Original de 2005