Saltos no escuro ou ex qualquer coisa?

HoMyfate6

{isto não é um post} Não deixa de ser interessante que muitas das pistas deixadas por nós (no passado ou no presente, e com maior ou menor relevância), a partir das quais podemos inferir linhas de pensamento e possíveis conclusões, nos falem, a rodo, sobre a capacidade “intrigante” que é o raciocínio abstracto, a imaginação para além da própria realidade visível e palpável (mesmo que baseada nesta), a permanente “sensação” de vivermos com “mundos paralelos”, por perto…

Características sem as quais, tenho a certeza, não poderíamos fazer arte, literatura, religião, ciência, actuar socialmente, ou mesmo psíquica e fisiologicamente de determinadas maneiras, e que são, se bem posso concluir, as bases cerne da nossa evolução e aquilo que nos distingue das outras espécies.

Talvez isto queira dizer que, se calhar (suspeito intimamente, mesmo que o não queira dizer – e isto confirma, no mínimo, a tal faculdade do imaginário) a espécie humana não é “deste mundo”, isto é, somos feitos de uma “matéria” não exclusivamente “física”, do mundo natural, pelo menos como a concebemos e convencionamos.

Pistas como: porque fizemos nós as casas-de-banho (mero exemplo…) leva-me a pensar que a nossa ligação ao mundo natural, animal, à Animalia, é eventualmente um “resquício” e uma condição “tecnológica” que algures no tempo o hospedeiro “imaterial” – genes? memes? binemes?1 – encontrou para se instalar e desenvolver. É que o simples facto de querermos desinfectar e pôr à distância os nossos próprios excrementos, na realidade uma ligação à nossa essência física, já é, por si, um indício de desligamento da maior parte das condições naturais… para já não falar que aceitamos (queremos?) que nos sejam instalados “chips”, próteses robóticas, memórias “biticas” e “bytecas1, etc., etc., em indícios simultaneamente fascinantes e perturbadores de desligamento da condição física animal… e de ligação à máquina (como já sugeri…).

Se pensarmos que estamos permanentemente a pensar no “além”, então tudo isto pode ser fundamental para inferirmos que a nossa ascendência é, no mínimo, qualquer coisa como uma mistura (um caldo…) material e “imaterial”, pelo menos como até agora a temos tentado conceber, explicar e convencer a nós mesmos… pois se mesmo no “nosso” mundo habitam seres tão fantásticos, e também sociais, como aqueles que vivem sob as mesmas ondas, onde tantas vezes fomos eloquentes como dementes, mas que respiram inusitados e mortíferos elementos químicos para a nossa espécie… mais parecem seres do “outro mundo”!… É a prova de que a vida é feita também de outras matérias e essências para além das postuladas por nós.

 

Horácio {Tomé Marques}
Original de 2005

 

1 – (as expressões são minhas, ou, como se costuma dizer, “coined by”… mesmo que isto não seja muito relevante.
Bineme(s) é uma inspiração/derivação em Binário neste contexto, como possibilidade de agente genético, como é óbvio. Byteca(s) contracção do termo “byte”, na sua lógica de “grupo” de bits operativa e, possivelmente, generativa, com o sufixo “teca” (do grego “thêkê” – caixa, lugar onde se guarda, como e.g., biblioteca ou mediateca), exactamente para se constituir numa dimensão mais apropriada à ideia que a configura… é também, claro, uma paródia (com inspiração no bitoque).